Período de 1930 até 1960
Embora a Faculdade de Medicina da Bahia (a primeira escola médica do Brasil) tenha iniciado o processo de especialização no final do século XIX, a segunda década do Século XX registra na prática o marco na medicina especializada brasileira, pois até então os médicos egressos tinham quatro opções disponíveis ao exercício profissional: a clínica, a cirurgia, o cuidar dos doentes mentais e a saúde pública.
A partir desse momento é que o Brasil começou o desenvolvimento pleno das demais áreas da medicina como especialidades, quando então a Oftalmologia na cidade de Campinas/SP, por iniciativa do médico baiano João Penido Burnier em 1920 criou a primeira entidade dessa especialidade que se tem registro no Brasil – Instituto Oftálmico de Campinas, atual Instituto Penido Burnier -, que estabeleceu um marco na especialização do tratamento das doenças dos olhos.
No início dos anos 20, a classe medica amazonense recebeu o primeiro especialista em oftalmo-otorrinolaringologia (a especialidade que cuidava dos olhos também tratava das doenças dos ouvidos, nariz e garganta) –, o médico baiano Dr. Agenor Carvalho de Magalhães, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1917 – que, em Manaus, clinicou por cerca de quatro décadas, até a sua transferência de domicilio para o Rio de Janeiro onde ocorreu o seu falecimento nos anos 60 em data que não sabemos precisar.
Na década seguinte, o povo amazonense foi contemplado com a chegada do Dr. Avelino Pereira. Natural de Mossoró/Rio Grande do Norte e também egresso da Faculdade de Medicina da Bahia, no ano de 1935, que além disso militava na imprensa, e por convite do seu amigo Assis Chateaubriand veio, recém-formado, para o Amazonas a fim de dirigir o Jornal do Comércio que há pouco havia sido adquirido pelos Diários Associados. Ainda na imprensa Baré, anos depois fundou seu próprio jornal A Gazeta. Já em Manaus, clinicando e também trabalhando como jornalista, por apresentação de Chateaubriand obteve no Rio de Janeiro no Serviço do Dr. Paulo Filho o treinamento na especialidade de oftalmo-otorrino (depoimento pessoal).
De volta à Manaus, o Dr. Avelino Pereira passou a exercer essa especialidade médica por cerca de meio século até o momento de sua partida. Aqui constituiu família, foi um dos diretores presidentes do antigo IPASEA, um dos idealizadores, fundadores e o primeiro presidente do Aeroclube de Manaus em 1940 e que conseguiu junto com seu amigo Chateaubriand a doação da primeira aeronave para o treinamento dos futuros pilotos amazonenses.
Na Revista do Centro Médico Amazonense, janeiro e fevereiro, Ano I, nº 1, 1940 apresentou seu primeiro trabalho científico com registro de Epitelioma do Limbo Esclero-Corneano o qual mereceu transcrição nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia desse mesmo ano.
Também integrou o Conselho Superior da recém-criada Universidade do Amazonas em 1963. Foi o presidente de honra da Sociedade Amazonense de Oftalmologia, atual Sociedade Oftalmológica do Amazonas no momento da sua organização. Faleceu e foi sepultado em Manaus no dia 22/2/1989.
O Dr. José Raimundo Franco de Sá, mais conhecido pelo sobrenome Franco de Sá, filho de tradicional família maranhense escolheu o Amazonas para viver e trabalhar, provavelmente por convite ou sugestão de seu tio o médico Basílio Torreão Franco de Sá que clinicava em Manaus e inclusive foi um dos prefeitos da cidade sucedendo o seu colega médico Jorge de Moraes.
Aqui, desde a sua chegada nos anos 30, constituiu família e viveu até os seus últimos dias. Além de conceituado médico, foi um dos primeiros integrantes do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas tendo sido um dos presidentes da corte e diretor médico do Hospital Beneficente Portuguesa na gestão do Comendador José Cruz.
O Dr. Franco de Sá também está inserido nas pesquisas oftalmológicas com a investigação sobre Endemia Tracomatosa em Manaus, artigo esse publicado na Revista do Centro Médico Amazonense, maio e junho Ano I, nº 3,1940 que está registrado nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia desse mesmo ano. Faleceu e foi sepultado em Manaus no dia 31/10/2002.
No final da década de 40, Manaus recebeu, no ano de 1949, mais um especialista dessas áreas do conhecimento, o Dr. Nilson Cavalcanti de Vasconcelos, natural de Campina Grande/Paraíba e oriundo do Estado de Pernambuco onde obteve o grau de Médico, no ano de 1948, pela Faculdade de Medicina da do Recife, hoje UFPE, e escolheu o Amazonas para trabalhar e aqui constituiu família, tendo permanecido em atividade até o momento de sua transfiguração para o outro plano.
Dr. Nilson Vasconcelos foi um dos primeiros professores de otorrinolaringologia do Curso de Medicina da UFAM e também com três outros colegas dessa especialidade – Drs. Platão Araújo, Hylace Miranda Braga e Geldásio Portela – criaram a primeira Clínica de Otorrino em Manaus nos anos 60 do século passado, quando a oftalmo já estava totalmente separada da otorrino, mas Nilson continuou também atuando como oftalmologista.
O Dr. Nilson Vasconcelos foi Secretário de Estado da Saúde do Amazonas e um dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado no primeiro governo do Gilberto Mestrinho (1959-1962). No regime exceção foi injustamente demitido e teve o dano reparado 15 anos depois quando foi reintegrado e compulsoriamente aposentado.
Os doutores Agenor de Magalhães, Avelino Pereira, José Raimundo Franco de Sá e Nilson Vasconcelos, escreveram nos anais da medicina amazonense páginas indeléveis nas especialidades de oftalmo e otorrinolaringologia, no período dessas quatro décadas, como os únicos dessas especialidades médicas que, à época eram agrupadas.
Obs: O próximo módulo abordará o exercício da Oftalmologia no Amazonas, no período de 1960 até 1980.
*Artigo escrito pelo Dr. Cláudio Chaves, decano da Oftalmologia amazonense.