Notas para a história da Oftalmologia no Amazonas (parte III)

Período de 1960 até 1980

No início dos anos 60 com as especialidades de oftalmologia e otorrinolaringologia desenvolvidas separadamente, Manaus recebeu mais seis especialistas dedicados às ciências da visão: os Drs. Caleb Ribeiro de Souza, Calil de Moraes Nadaf, Raimundo Ozildo Rocha de Aragão, Marcos Lacel Camargos, Roberto César de Góes Monteiro e Paulo Russo.

Os dois primeiros – Drs. Caleb e Calil Nadaf ainda exerciam concomitantemente as duas especialidades médicas (a oftalmo e a otorrinolaringologia), os demais eram exclusivamente oftalmologistas.

O Dr. Caleb Ribeiro, carioca de nascimento (15/2/1919) e graduado pela Faculdade de Medicina do Recife no ano de 1953, passou a integrar o quadro de médicos do Exército Brasileiro e na condição de Major Médico, veio servir no Hospital Militar de Área de Manaus e aqui exerceu suas atividades profissionais por mais de uma década, tanto na prática privada quanto na organização militar onde inclusive foi diretor daquele nosocômio no período de 1968 a 1970.

Após o término do seu mandato de diretor do hospital militar retornou ao Rio de Janeiro, sua terra natal onde permaneceu até o momento do seu falecimento e respectivo sepultamento, ambos ocorridos em 24/6/2004.

Maj. Méd. Dr. Caleb Ribeiro – Oftalmo-otorrino

O Dr. Calil de Moraes Nadaf, amazonense de Manaus, nascido em 31/10/1937, filho de tradicional família de imigrantes árabes, obteve o grau de médico pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro/UNIRIO no ano de 1964.

Retornando à sua terra natal com formação nas duas especialidades médicas (a oftalmo e a otorrino), exerceu a prática profissional por cerca de cinco décadas. Aqui também constituiu sua própria família e viveu por toda sua existência na terra que lhe serviu de berço até o momento de seu passamento ocorrido em 18/10/2020.

Dr. Calil de Moraes Nadaf – Oftalmo-otorrino

O Dr. Raimundo Ozildo Rocha de Aragão, natural de Fortaleza/CE, nascido em 12/12/1947, graduado em medicina no ano de 1971 pela Universidade Federal do Ceará, logo após a colação de grau de médico, escolheu Manaus para trabalhar e aqui teve uma passagem muito breve quando mudou seu domicilio para Porto Alegre/RS onde permanece no exercício da profissão até os dias atuais.

Dr. Ozildo Aragão – Oftalmo

O Dr. Marcos Lacel Camargos, natural de Itaúna/MG, nascido em 18/11/1942, obteve graduação em medicina pela Faculdade de Medicina da UFMG no ano de 1966.

Em janeiro de 1969, já titulado como especialista em oftalmologia, veio para o Amazonas juntamente com o também mineiro Dr. Roberto César de Góes Monteiro, ambos egressos do Serviço de Oftalmologia do Hospital São Geraldo/MG – entidade ligada à cátedra regida pelo insigne Prof. Hilton Rocha.

Aqui eles instalaram a Clínica de Olhos de Manaus, localizada nos altos do edifício da esquina das ruas Comendador Alexandre Amorim e Epaminondas, e também criaram, em 1970, a Cadeira de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFAM no momento em que a primeira de suas turmas estava cursando o 5º ano médico e foram eles os primeiros professores dessa disciplina.

Com apenas 1 ano de exercício profissional em Manaus, o Dr. Lacel retornou ao seu estado de origem para exercer o magistério médico na UFMG e pouco tempo depois mudou seu domicílio para Goiânia onde permanece em atividade até o presente momento.

Embora o pouco tempo de sua atuação em Manaus (apenas um ano), o Dr. Lacel, realizou dois grandes feitos que estão registrados de forma indelével na memória médica amazonense – a Clínica pioneira de Oftalmologia e a estruturação da cadeira dessa disciplina na Universidade Federal -, ambos em conjunto com o Dr. Góes Monteiro que continuou essas obras por 11 anos até o momento em que mudou seu domicílio também à sua terra natal.

Dr. Marcos Lacel Camargos – Oftalmo

O Dr. Roberto César de Góes Monteiro, natural de Belo Horizonte/MG, nascido em 3/10/1942 e obteve graduação pela Faculdade de Medicina da UFMG no ano de 1965.

Em janeiro de 1969, já titulado como especialista em oftalmologia, veio para o Amazonas juntamente com o também mineiro Dr. Marcos Lacel Camargos, ambos egressos do Serviço de Oftalmologia do Hospital São Geraldo/MG – entidade ligada à cátedra regida pelo insigne Prof. Hilton Rocha.

Aqui eles instalaram a Clínica de Olhos de Manaus, localizada nos altos do edifício da esquina das ruas Comendador Alexandre Amorim e Epaminondas, e também criaram a Cadeira de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFAM no momento em que a primeira de suas turmas estava cursando o 5º ano médico e foram eles os primeiros professores dessa disciplina.

Em Manaus, com a sua esposa Dona Sônia também mineira, viu nascer suas duas filhas e lecionou oftalmologia até o ano de 1976 na UFAM quando resolveu não mais continuar a atividade de docente.

Também exerceu a prática privada por 11 anos até o momento em que resolveu transferir o seu domicílio para a terra que lhe serviu de berço em 1980, onde viveu até os seus últimos dias.

A presença do Dr. Góes Monteiro na oftalmologia do Amazonas, deixou marcas inapagáveis na história da medicina amazonense pelo alto nível de proficiência técnica e científica no exercício da clínica oftalmológica, pelo pioneirismo na instalação de clínicas de olhos em Manaus e pela notável contribuição ao ensino da oftalmologia – estruturação da cadeira dessa disciplina e o exercício do magistério por 7 anos ininterruptos à formação das primeiras turmas de médicos da UFAM.

O Dr. Roberto César de Góes Monteiro, veio a falecer e foi sepultado no dia 31/1/2020 em Belo Horizonte nas Minas Gerais.

No mesmo ano de 1969, retornou à Manaus, o Dr. Paulo Russo, amazonense de Manaus, filho de tradicional família manauara, sendo seu genitor imigrante italiano.

O Dr. Paulo Russo graduou-se em medicina em 1966 na Universidade Federal do Ceará e fez especialização em oftalmologia nessa mesma instituição de ensino.

Aqui exerceu a medicina no antigo IPASEA e na prática privada no seu consultório inicialmente instalado na Rua José Clemente próximo da Avenida Epaminondas e posteriormente na Praça Santos Dumont nº 67.

Ele foi também um dos docentes das ciências da visão na UFAM no período de 1971 a 1974 com notória participação no ensino da oftalmologia da segunda à quinta turma de novos médicos egressos pela nossa universidade federal.

Dentre os seus filhos, tem-se registro como oftalmologista, a Dra. Dineia Aguiar Russo.

O Dr. Paulo Russo faleceu em Manaus no dia 16/7/2011 onde está sepultado.

Obs:O próximo módulo abordará o exercício da Oftalmologia no Amazonas, no final da década 1970 ao início dos anos 80.

*Artigo escrito pelo Dr. Cláudio Chaves, decano da Oftalmologia amazonense.

Período de 1930 até 1960

Embora a Faculdade de Medicina da Bahia (a primeira escola médica do Brasil) tenha iniciado o processo de especialização no final do século XIX, a segunda década do Século XX registra na prática o marco na medicina especializada brasileira, pois até então os médicos egressos tinham quatro opções disponíveis ao exercício profissional: a clínica, a cirurgia, o cuidar dos doentes mentais e a saúde pública.

A partir desse momento é que o Brasil começou o desenvolvimento pleno das demais áreas da medicina como especialidades, quando então a Oftalmologia na cidade de Campinas/SP, por iniciativa do médico baiano João Penido Burnier em 1920 criou a primeira entidade dessa especialidade que se tem registro no Brasil – Instituto Oftálmico de Campinas, atual Instituto Penido Burnier -, que estabeleceu um marco na especialização do tratamento das doenças dos olhos.

No início dos anos 20, a classe medica amazonense recebeu o primeiro especialista em oftalmo-otorrinolaringologia (a especialidade que cuidava dos olhos também tratava das doenças dos ouvidos, nariz e garganta) –, o médico baiano Dr. Agenor Carvalho de Magalhães, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1917 – que, em Manaus, clinicou por cerca de quatro décadas, até a sua transferência de domicilio para o Rio de Janeiro onde ocorreu o seu falecimento nos anos 60 em data que não sabemos precisar.

Na década seguinte, o povo amazonense foi contemplado com a chegada do Dr. Avelino Pereira. Natural de Mossoró/Rio Grande do Norte e também egresso da Faculdade de Medicina da Bahia, no ano de 1935, que além disso militava na imprensa, e por convite do seu amigo Assis Chateaubriand veio, recém-formado, para o Amazonas a fim de dirigir o Jornal do Comércio que há pouco havia sido adquirido pelos Diários Associados. Ainda na imprensa Baré, anos depois fundou seu próprio jornal A Gazeta. Já em Manaus, clinicando e também trabalhando como jornalista, por apresentação de Chateaubriand obteve no Rio de Janeiro no Serviço do Dr. Paulo Filho o treinamento na especialidade de oftalmo-otorrino (depoimento pessoal).

De volta à Manaus, o Dr. Avelino Pereira passou a exercer essa especialidade médica por cerca de meio século até o momento de sua partida. Aqui constituiu família, foi um dos diretores presidentes do antigo IPASEA, um dos idealizadores, fundadores e o primeiro presidente do Aeroclube de Manaus em 1940 e que conseguiu junto com seu amigo Chateaubriand a doação da primeira aeronave para o treinamento dos futuros pilotos amazonenses.

Na Revista do Centro Médico Amazonense, janeiro e fevereiro, Ano I, nº 1, 1940 apresentou seu primeiro trabalho científico com registro de Epitelioma do Limbo Esclero-Corneano o qual mereceu transcrição nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia desse mesmo ano.

Também integrou o Conselho Superior da recém-criada Universidade do Amazonas em 1963. Foi o presidente de honra da Sociedade Amazonense de Oftalmologia, atual Sociedade Oftalmológica do Amazonas no momento da sua organização. Faleceu e foi sepultado em Manaus no dia 22/2/1989.

Dr. Avelino Pereira – Oftalmo-Otorrino

O Dr. José Raimundo Franco de Sá, mais conhecido pelo sobrenome Franco de Sá, filho de tradicional família maranhense escolheu o Amazonas para viver e trabalhar, provavelmente por convite ou sugestão de seu tio o médico Basílio Torreão Franco de Sá que clinicava em Manaus e inclusive foi um dos prefeitos da cidade sucedendo o seu colega médico Jorge de Moraes.

Aqui, desde a sua chegada nos anos 30, constituiu família e viveu até os seus últimos dias. Além de conceituado médico, foi um dos primeiros integrantes do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas tendo sido um dos presidentes da corte e diretor médico do Hospital Beneficente Portuguesa na gestão do Comendador José Cruz.

O Dr. Franco de Sá também está inserido nas pesquisas oftalmológicas com a investigação sobre Endemia Tracomatosa em Manaus, artigo esse publicado na Revista do Centro Médico Amazonense, maio e junho Ano I, nº 3,1940 que está registrado nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia desse mesmo ano. Faleceu e foi sepultado em Manaus no dia 31/10/2002.

 

Dr. Basílio Torreão Franco de Sá
Médico e Ex-Prefeito de Manaus
Dr. José Raimundo Franco de Sá
Médico Oftalmo-Otorrino

No final da década de 40, Manaus recebeu, no ano de 1949, mais um especialista dessas áreas do conhecimento, o Dr. Nilson Cavalcanti de Vasconcelos, natural de Campina Grande/Paraíba e oriundo do Estado de Pernambuco onde obteve o grau de Médico, no ano de 1948, pela Faculdade de Medicina da do Recife, hoje UFPE, e escolheu o Amazonas para trabalhar e aqui constituiu família, tendo permanecido em atividade até o momento de sua transfiguração para o outro plano.

Dr. Nilson Vasconcelos foi um dos primeiros professores de otorrinolaringologia do Curso de Medicina da UFAM e também com três outros colegas dessa especialidade – Drs. Platão Araújo, Hylace Miranda Braga e Geldásio Portela – criaram a primeira Clínica de Otorrino em Manaus nos anos 60 do século passado, quando a oftalmo já estava totalmente separada da otorrino, mas Nilson continuou também atuando como oftalmologista.

O Dr. Nilson Vasconcelos foi Secretário de Estado da Saúde do Amazonas e um dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado no primeiro governo do Gilberto Mestrinho (1959-1962). No regime exceção foi injustamente demitido e teve o dano reparado 15 anos depois quando foi reintegrado e compulsoriamente aposentado.

Nilson Cavalcanti Vasconcelos – Médico Oftalmo-Otorrino

Os doutores Agenor de Magalhães, Avelino Pereira, José Raimundo Franco de Sá e Nilson Vasconcelos, escreveram nos anais da medicina amazonense páginas indeléveis nas especialidades de oftalmo e otorrinolaringologia, no período dessas quatro décadas, como os únicos dessas especialidades médicas que, à época eram agrupadas.

Obs: O próximo módulo abordará o exercício da Oftalmologia no Amazonas, no período de 1960 até 1980.

*Artigo escrito pelo Dr. Cláudio Chaves, decano da Oftalmologia amazonense.

Atendendo o convite da atual Diretoria da Sociedade de Oftalmologia do Amazonas (sucessora da Sociedade Amazonense de Oftalmologia) presidida atualmente pelo Dr. Cláudio do Carmo Chaves Filho, tenho a grata satisfação de trazer ao conhecimento dos estimados colegas, dados sobre a história da oftalmologia amazonense em forma de módulos, já agradecendo de imediato as contribuições que possam ser acrescidas no transcorrer dessa narrativa e também ao mesmo tempo as respectivas desculpas por eventuais omissões.

Da emancipação do Grão-Pará até 1930

Nenhum registro da presença de médico oftalmologista exercendo sua atividade no Amazonas desde o descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 22 de abril de 1500, passando pela criação do Estado do Grão- Pará e Maranhão instituído em 1621, a união desfeita entre esses em 1774, e a instalação da província do Amazonas em 5 de setembro de 1850 por João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, chegando até as primeiras décadas do século XX.

Se aqui houve a prática da medicina oftalmológica, nesse período, essa possa ter ocorrido de forma esporádica feita por médicos da coroa portuguesa ou por médicos brasileiros de outras paragens em missões pela região, o que é muito provável que tenha acontecido, embora em saltos muito grandes de intervalo de tempo. Fica aqui essa observação a ser ou não ratificada!

Acredita-se que a história da Oftalmologia amazonense passou a ser escrita no século XX.

Comunicação pessoal com meu saudoso pai – o professor de Matemática Cleomenes do Carmo Chaves – assinala como o primeiro médico a praticar a Medicina oftalmológica, no Amazonas, o Dr. Manoel Barreto Lins, graduado em médico pela Faculdade de Medicina e Pharmacia da Bahia em 1895 e com especialização em oftalmologia em 1912 no Hotel-Dieu, Paris, oriundo do Nordeste brasileiro (Estado de Pernambuco), para cá emigrou, nos anos 20 e aqui viveu e atuou também como clínico na Santa Casa de Misericórdia de Manaus, conforme relato do médico e escritor Antônio Loureiro sobre a história daquele antigo nosocômio.

Em Manaus, ele residiu por algum tempo no castelo “Zulmira”, situado na rua São Luís nº 101, que pertenceu, originalmente, ao ex-prefeito coronel Adolfo Lisboa. A passagem de Barreto Lins como oculista deixou poucos registros no acervo médico amazonense, visto que a sua atuação na área limitava-se a realizar consultas e exames de refração.

Manoel Barreto Lins, foto e diploma de médico.

Também há informações oficiosas de que as primeiras cirurgias oftalmológicas tenham sido realizadas na segunda década do século XX, em Manaus, no Hospital Beneficente Portuguesa pelo Cirurgião Geral Dr. Jorge de Moraes, amazonense e manauara, nascido em 1872, graduado em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, o qual era considerado como um virtuoso do bisturi e também como o maior cirurgião operador da sua época, e que nas suas andanças pela Europa aprendeu a realizar extração de catarata.

Além de notável médico, o Dr. Jorge Moraes foi Deputado Federal e Senador pelo Amazonas e também Prefeito de Manaus.

Dr. Jorge de Moraes

Obs: O próximo módulo abordará o exercício da Oftalmologia no Amazonas, no período de 1930 até 1960. Clique no link e confira!

*Artigo escrito pelo Dr. Cláudio Chaves, decano da Oftalmologia amazonense.

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